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  • Foto do escritorMarcelo Hugo da Rocha

A síndrome do pai ausente

"Pai é quem cria".

Este ditado é daqueles que a sabedoria popular acertou em cheio sem precisar ter lido uma biblioteca inteira de livros de Psicologia. Porém, no texto de hoje não quero enaltecer a figura do padrasto, que nos arranjos atuais, são cada vez mais comum: pais separados que se casam novamente e reúnem a prole de ambos sob a mesma proteção.


Minha pretensão é trazer um olhar mais analítico do papel que as mães-solo precisam exercer além da maternidade, a da paternidade.


Percebo na clínica, a dificuldade de lidar com a ausência de um pai quando a mãe precisa assumir esta função na criação dos seus filhos. Esta ausência pode ser justificada por vários motivos, mas aquele que o pai vivo se omite de estar presente na construção da personalidade e educação de seu filho é o mais difícil de encarar, pois a raiva é na maioria das vezes o sentimento compartilhado tanto pela mãe como da prole abandonada.


Acontece que numa dinâmica de casal, em geral, cada um deles exerce uma função, a qual eu denomino de "puxa-solta". Seja o pai, seja a mãe, será inevitável na relação com os filhos que um representará aquele que cobra, manda, determina, põe de castigo, dita regras e coloca limites. Este é quem "puxa". Ao outro, então, caberá o que "solta", aquele que permite e abranda as restrições aos olhos dos filhos. Este padrão parece ser até algo cultural de tão normalizado que é.


Pare e pergunte-se: quem exercia na sua vida o "puxa" e o "solta"?


A questão fica complexa quando o filho é criado apenas pela mãe. Aqui um parênteses. Quando me dirijo a "mãe", poderia ser um pai ou um dos companheiros de um casal homoafetivo. Porém, quem procura a terapia e compartilha suas dificuldades da vida doméstica são as mães. Então, quem se responsabiliza unicamente pela criação terá que assumir tanto o "puxa" como o "solta". Precisará ser energético para impor limites, mas também ter a sensibilidade para ceder. A questão é que na cabeça da criança ou adolescente estes sinais estão numa única pessoa.


Normalmente, nas casas com ambos os pais, o filho que tentou alguma coisa com um deles e recebeu a negativa, tentará persuadir o outro se aquilo é tão importante para ele. Chega até ser um meme: "Pergunte para sua mãe se você pode" ou "Pergunte para o seu pai". Então há este equilíbrio, uma espécie de balança de alternância de poderes.


Agora, a mãe ou pai que exerce ambas as funções tem que lidar num instante impondo limites e logo após enfrentar novamente a insistência do filho, pois ele não tem a outra pessoa para recorrer. No Direito, diríamos que não haveria a segunda instância, apenas um único juiz para decidir e não um tribunal para ouvir a reclamação. Se na cabeça do filho parece ser o único movimento a fazer, na da mãe a confusão é certa. Ora cede, ora impõe limites, ora não sabe o que responder, e assim, vai sendo construída uma relação estressante e pesada, principalmente, na adolescência.


Esta tal síndrome do título é para chamar a atenção para este problema bastante atual e do sofrimento que as mães passam por ele, infelizmente.









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