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  • Foto do escritorMarcelo Hugo da Rocha

Psicologia, religião e espiritualidade.

Resolução do CFP


Em 2023, o Conselho Federal de Psicologia - CFP lançou um texto, a Resolução 7/2023, que veda a utilização do título de psicólogo associado a vertentes religiosas e a associação de conceitos, métodos e técnicas da ciência psicológica a crenças religiosas. Também proíbe os profissionais de utilizar a religião como forma de publicidade e propaganda.


No mesmo ano, um partido político e uma organização civil questionaram junto ao STF a inconstitucionalidade da mesma em razão da liberdade de consciência e de crença do profissional da saúde.


Não irei comentar sobre este imbróglio especificamente, mas sobre o papel do psicólogo quanto a crenças de seus pacientes e a minha relação com este assunto.


Religião, espiritualidade e espiritismo


Primeira coisa a abordar é que religião e espiritualidade são coisas distintas. E também espiritualidade não é espiritismo, que também é uma doutrina religiosa, porém sem sacerdócio ou cerimônia.


"Religião convencional é um conjunto de regras e crenças impostas de fora. Foi herdada de sacerdotes, profetas ou livros sagrados, ou absorvida por intermédio da família ou das tradições", afirmam os psicólogos e professores da Universidade de Oxford, Danah Zohar e Ian Marshall, autores do seminal livro "Inteligência Espiritual" (editora Viva Livros, 2018, p. 22).


Em contraste, os "seres humanos são essencialmente criaturas espirituais, porque somos impulsionados pela necessidade de fazer perguntas 'fundamentais'" (Zohar & Marshall, op.cit., p. 18). Tais perguntas dizem respeito ao sentido da vida, o significado das coisas, do impulso vital da vida. Isso é espiritualidade e que pode ser medida através do quociente espiritual (Q.S.), como o quociente de inteligência (Q.I.) e o quociente emocional (Q.E.). Como resumem os psicólogos citados, "a inteligência espiritual é a inteligência da alma" (op. cit., p.23).


Como psicólogo


Como psicólogo acredito que a espiritualidade em si é uma questão importante dentro da clínica e não pode ser ignorada. Dentro de uma possível oportunidade e que esteja num contexto propício, minha curiosidade profissional me leva a perguntar sobre as crenças do meu paciente além do que enxerga e interpreta das coisas mundanas.


Sou cristão por batismo, crismado e participei de um grupo semanal de jovens católicos praticantes por muitos anos. Aos poucos, meu olhar crítico foi me afastando da Igreja e me aproximando de algo bastante particular do que acredito sobre Deus e a natureza das coisas. Mantenho uma base cristã, mas por uma lente mais humana e acolhedora, sem moralismos ou dogmas fixos. A minha relação com Ele é direta, mesmo que muito ocasionalmente frequente uma missa e ouça a homilia.


No entanto, há uma palavra neste contexto religioso - e não espiritual - que não é bem-vinda no meu consultório que é "conversão". Explico. Ela foi e é a justificativa para tantos conflitos e perseguições religiosas com o objetivo de converter os perdedores a rezarem para uma mesma santidade superior. Como alguém que se diz religioso pode usar da força e opressão contra alguém que não acredita na mesma coisa? Este é o motivo da maioria das guerras mais sangrentas da história da humanidade.


Por esta razão, jamais meu papel será de conversão, mas de compaixão pelo outro e suas crenças, quaisquer que sejam. Sem julgamento.


O máximo que posso ir, como limite, é colocar para o meu paciente se as crenças espirituais ou religiosas não estão dificultando as coisas no seu caminho ou validar sua espiritualidade ou religiosidade, caso ela mantenha a esperança que tanto precisa para o momento difícil.


Além do Q.S. há outras intervenções que a Psicologia estuda dentro da espiritualidade? Sim. Uma das mais famosas é abordagem que trata do sentido da vida, a logoterapia fundada por Viktor Frankl. Também a psicologia transpessoal vinculada aos estudos transcendentes e espirituais.


Para finalizar, a minha crença é acreditar que o meu paciente seguirá sua vida do jeito que ele espera que tenha que ser.










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